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Dia Mundial do Teatro, Mensagem Internacional - Carlos Celdrán
há 265 semanas
Este ano, a mensagem internacional do Dia Mundial do Teatro é do encenador, dramaturgo e professor cubano, Carlos Celdrán. 
 
Leia aqui a mensagem.
Mensagem CENA-STE Dia Mundial do Teatro 2019 - Pedro Rodrigues
há 265 semanas
Este ano, o CENA-STE pediu ao seu associado e produtor teatral, Pedro Rodrigues, que escrevesse uma mensagem sobre o Teatro neste que é o seu Dia Mundial. 
 
Gostamos do que fazemos
 
Tão perverso quanto aproveitar as efemérides para anunciar “boas notícias” ou fazer discursos emocionais, desligados do que praticam no resto do ano, é deixarmos que nos roubem o sentido da comemoração.
Importa pois resistir à descrença e ao cinismo e levantarmo-nos, também hoje, para lembrar e fazer lembrar o lugar do Teatro na vida das comunidades – em lugares onde imperam a opressão, o medo, o ódio, a guerra, e em lugares, como Portugal, onde as lutas pela liberdade, pela igualdade de oportunidades, pelo acesso ao conhecimento, pelo direito à diferença, pela democracia, continuam a ser necessidades e tarefas quotidianas.
 
Há áreas profissionais em que é mais fácil do que noutras disfarçar o cansaço ou a falta de gosto pelo que se faz. Na arte – e no Teatro em particular – é praticamente impossível, tanto para quem se expõe de forma extrema à frente de outros, como para quem, fora de cena, orienta os seus passos para que tal exposição aconteça.
Gostamos muito do que fazemos e sabemos bem quão arriscado pode isso ser, quantos amargos de boca e aflições de fim de mês isso nos provoca, quanta incerteza e precariedade isso ajuda a perpetuar, em nome de uma vontade que não desaparece, de uma necessidade que vem de dentro e se nos impõe. São elas - vontade e necessidade - que nos impelem a continuar e nos animam nos dois grandes e indissociáveis combates para os quais permanecemos convocados: a democratização do acesso à arte e o respeito pelos direitos de quem nela trabalha.
Previsto na Constituição, o “direito à criação e à fruição artística”, que incumbe ao Estado garantir, tem sido assumido de forma envergonhada e demasiadas vezes ostensivamente negado aos cidadãos. Mantêm-se por isso como urgências: reconhecer a importância das diferentes expressões artísticas na formação e na vida das pessoas e do que isso contribui para, enriquecendo e diversificando as leituras do mundo, criar comunidades informadas, críticas, abertas e participativas; definir e concretizar políticas que respondam a essa necessidade, resolvendo a insuportável e insultuosa descoincidência entre os discursos de circunstância e as práticas governativas, nas várias áreas de intervenção do Estado.
A secundarização do direito à arte no conjunto dos direitos da população fragiliza-o ainda mais perante as pressões para o recuo do Estado Social com que estamos confrontados. Numa área em que o investimento público e a regulamentação são fundamentais para garantir a democratização do acesso e combater as tendências para a mercantilização e para a homogeneização, a insuficiência da acção do Estado repercute-se de imediato nas condições de trabalho dos profissionais do sector. Quarenta e cinco anos depois da Revolução de Abril, é inaceitável que subsistam (e em alguns casos proliferem) os níveis de sub-financiamento e de desregulamentação como os que marcam as artes do espectáculo em Portugal.
Os profissionais desta área, em particular os que trabalham em Teatro, serão hoje elogiados pela sua “resil…” 
(recuso-me a escrever a palavra, carregada de inconsequência e de desresponsabilização de quem tem o poder de transformar as coisas).
É certo, contudo, que nos mantemos entusiasmados, prontos para continuar a dar o nosso contributo. E capazes de nos organizar, também através deste Sindicato - reivindicando níveis mínimos de estabilidade nas relações contratuais, salários e horários justos, regulamentação de carreiras, segurança no trabalho e investimento público condigno; apresentando propostas e dispondo-nos a trabalhar em conjunto com as entidades oficiais.
Reafirmá-lo hoje, a propósito do Dia Mundial do Teatro, é uma forma de o celebrar, entre colegas de profissão e com os públicos.
 
Gostamos realmente muito do que fazemos e isso é um privilégio, nosso e de quem vive connosco o Teatro. Não abdicamos dele, mas também não admitimos que seja usado para diminuir nenhum dos nossos direitos.
 
Pedro Rodrigues
Produtor Teatral
Possível greve à opereta "L´étoile", no Teatro Nacional de São Carlos
há 266 semanas

O CENA-STE e os trabalhadores técnicos do Teatro Nacional de São Carlos deram entrada de pré-aviso de greve ao ensaio geral e apresentações da opereta "L´étoile".
Depois da apresentação do pré-aviso decorreu já uma reunião com o Conselho de Administração do OPART (de que fazem parte o TNSC e a CNB) e decorrerá no dia 26 outra com a Ministra da Cultura. As ilacções retiradas destas reuniões confirmarão ou não a necessidade de recorrer à greve.

Na base deste pré-aviso estão: 

- a necessidade de equiparar o vencimento base dos técnicos do TNSC ao dos técnicos que na CNB desempenham funções similares; 

- exigir o cumprimento das normas de Segurança e Higiene no trabalho e efectuar uma análise profunda a todo o material técnico de modo a criar um plano de recuperação e substituição que permita desenvolver o trabalho nos ensaios, espectáculos e áreas de apoio garantindo a segurança dos trabalhadores e também do público. 

Na reunião de ontem, dia 21 de Março, saímos com a firme convicção de que o CA do OPART irá aceitar realizar esta análise em colaboração com os trabalhadores e os seus representantes, assumindo que ela é fundamental para as duas casas que tutelam. 

Relativamente ao primeiro, fica mais uma vez demonstrado que é preciso terminar de uma vez por todas com as limitações governativas às progressões de carreira, contratações, promoções e revisões salariais. Neste momento e segundo fomos informados pelo CA, é ao Ministério das Finanças que cabe equiparar os salários destes trabalhadores, uma vez que tanto o próprio CA como o Ministério da Cultura já deram o parecer positivo. 

Em 2009, e por acordo entre o Sindicato e o CA do OPART, os técnicos do TNSC, como parte de um compromisso alargado, aceitaram um vencimento base equiparado ao dos técnicos com funções similares da CNB mas proporcionalmente inferior visto que estes trabalhariam 40 horas semanais e os do TNSC 35 horas semanais. Assim, e com a redução do horário de trabalho dos técnicos da CNB em Setembro de 2017 para as 35 horas semanais, o OPART não tem cumprindo o princípio de trabalho igual, salário igual. 

É importante referir que muitas destas limitações orçamentais impostas pelo governo aos organismos estatais, acabam por resultar, pela luta dos trabalhadores que muita vezes acaba por passar pelos tribunais, em custos suplementares, visto que tantas e tantas vezes à reposição de direitos corresponde também o pagamento de retroactivos e consequentemente de juros. 

 

 

 

 

Acordo formalizado na Plural Entertainment
há 266 semanas
Foi formalizado e assinado o acordo entre o CENA-STE e o grupo Plural Entertainment para a melhoria das condições de trabalho e salariais no corrente ano. 
Agendada está já a primeira reunião de negociação para que se tente um novo acordo para 2020. 
 
Esta formalização é assim o final do primeiro passo da nova intervenção sindical dentro desta empresa. Desde Dezembro, com as cláusulas do acordo já assumidas por ambas as partes, foi feito um trabalho de esclarecimento mútuo sobre possíveis cenários da reorganização do trabalho nas diferentes produções. 
 
A nova produção de ficção, que se iniciou no dia 18 de Março, já contempla a primeira redução da carga horária e será já este mês que os trabalhadores do grupo verão reflectido no seu recibo de vencimento o respectivo aumento salarial, o que já não acontecia há 8 anos para a esmagadora maioria de trabalhadores. 
 
Para 2020, esperamos dar novos passos na melhoria das condições de trabalho e salariais dentro desta empresa. Continuamos também a trabalhar para que noutras empresas similares se consiga aumentar a organização sindical e com isso conquistar direitos e aumentos, por forma a, de uma vez por todas, dar um passo decisivo no objectivo fundamental de alcançar um padrão que acabe por resultar na contratação colectiva para todo o sector. 
 
Lembramos que este acordo só foi possível depois do aumento da representatividade do CENA-STE dentro do grupo Plural Entertainment, do empenho e união destes trabalhadores e da sua luta que, em Dezembro, culminou com um período de greve a todo o trabalho para lá das 8h diárias. 
Actualização tabelas Som e Assistentes Imagem (Pub)
há 267 semanas
Partilhamos aqui as actualizações das tabelas de valores de referência e condições de trabalho para os trabalhadores do audiovisual da área do Som e para os Assistentes de Imagem em publicidade. 
 As presentes condições foram indicadas por profissionais de cada área e resultam da análise do que é praticado.
 
O CENA-STE continua a trabalhar na uniformização das Condições de Trabalho e dos Valores de Referência tendo sempre em conta a especificidade funcional de cada profissão/área.
 
 
 
Estas e outras tabelas estarão sempre disponíveis no menu inicial da nossa página. 
Dia Internacional da Mulher Trabalhadora: Mensagem CENA-STE
há 268 semanas

Mensagem do CENA-STE para o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, escrita pela nossa Dirigente, actriz e cantora, Joana Manuel.

 

 

“Malleus Maleficarum”

Um início em latim transmite seriedade. Solidez histórica. Verdade concreta no concreto reconhecida. Denominação no terreno com selo académico. Comecemos em latim, então. Malleus Maleficarum. Ou como ficou conhecido no vernáculo, O Martelo das Bruxas.

 

Sob a influência directa do Malleus Maleficarum, publicado em 1486 e com dezanove novas impressões entre 1574 e 1669, foram queimadas vivas mais de cem mil mulheres, só na Europa, num holocausto prolongado no tempo e nos efeitos. O livro chegou a estar no Índex de livros proibidos pelo Vaticano, mas fazia as delícias dos inquisidores, quer católicos quer calvinistas. Um best-seller. Um verdadeiro manual de lifestyle.

 

Mais de cem mil na fogueira, só desta leva. E mais teriam sido, não fosse a resistência de muitas comunidades. Das comunidades inteiras, que se sentiam ameaçadas pela ameaça às mulheres que as integravam.

 

Falemos de inovação, essa palavra tão, digamos, inovadora. Uma das inovações trazidas pelo Malleus Maleficarum foi a determinação lapidar de que só há bruxas, não há bruxos. E grande é o preço que se paga por se ser uma bruxa. E grande é o preço que se paga para não se ser uma bruxa. O preço da beleza, do recato e do lar. O preço do cuidado do outro à frente da própria auto-preservação. O preço da submissão, da invisibilidade e de sucessivas micro e macro-anulações.

Desde então fizemos um longo caminho, há-que dizê-lo, ainda que longe de universal. Na lei. No espaço público. No trabalho. No corpo. Em casa. Duras e lentas conquistas. O dia 8 de Março celebra-as todas. O dia 8 de Março relembra-nos o quanto de cada uma ainda está por cumprir, o quanto do conquistado está sempre longe de garantido.

 

Porque, no entanto, a dupla jornada de trabalho ainda é uma realidade. No entanto, ainda e sempre salários mais baixos para trabalho igual. E no entanto, no Cinema, as mulheres estudam e formam-se em maiores números para se esfumarem no ar na passagem para o mercado de trabalho. E no entanto, na ficção, só aos homens é permitido envelhecer – a mesma visibilidade para homens e mulheres até aos 35 anos; a partir dos 35, dois actores para cada actriz; três para uma aos 50; quatro homens para cada mulher em frente da câmara a partir dos 60 anos. E no entanto, na vida real, mais de 66% das mulheres com menos de 25 anos a trabalhar em Portugal são precárias. E no entanto, uma precária vê-se facilmente sem trabalho quando engravida. E no entanto, 27% das mulheres trabalhadoras em Portugal recebem o salário mínimo. E no entanto, a cultura da violência mantém-se. E a Justiça portuguesa dá workshops de maquilhagem a 8 de Março, na coutada do macho latino e em pleno surto social de violência homicida (e suicida) contra as mulheres. E no entanto, há quem continue a falar e a agir como se cada uma destas coisas fosse um problema moral, quando é um problema social. Como se se tratasse de vários problemas individuais, quando é um grande problema colectivo. Malleus Maleficarum. Graus diferentes, a mesma substância.

 

E é por tudo isto que Maio não se cumpre sem Março. Porque o machismo e o patriarcado não são apenas atitudes ou palavras discriminatórias, nem discussões sobre o politicamente correcto. São relações reais de opressão e exploração. Opressão e exploração muitas vezes aceites como normais e naturais por ambas as partes e por isso quase invisíveis no dia-a-dia. Quase invisíveis. Mas nem por isso menos destruidoras. Nem por isso menos imobilizadoras. Este ano pudemos solidarizar-nos com a Cristina Tavares, operária corticeira que se destaca de entre centenas ou milhares de mulheres todos os dias silenciosamente sujeitas a intimidação e assédio. Destaca-se porque é a excepção e conseguiu lutar de cara destapada e peito aberto. A Cristina tem de deixar de ser uma excepção. E a intimidação tem de deixar de ser a regra.

 

Também no meio artístico a fragilidade é imensa. O trabalho em equipas e produções mais ou menos – por vezes, muito - hierarquizadas, mas sem a segurança laboral que proteja os graus mais basilares das hierarquias, potencia um sistema de côrtes perpetuado em nome da sobrevivência, quer das práticas artísticas quer da própria existência do trabalhador. Tudo, como em todos os campos, afectando mais intensamente as mulheres.

 

Assim como as cumulativas lutas dos trabalhadores para combater e reduzir a exploração são as pedras de toque para a construção de um acervo de conquistas reais e de mais e melhores formas de organização e mobilização, também a luta das mulheres pela igualdade de direitos, a luta das mulheres contra todas as forças mais ou menos visíveis da sua exploração é processo essencial e fundador das lutas sociais e laborais. Das lutas dos trabalhadores e das comunidades.


Poder-se-ia terminar com uma palavra de ordem do estilo "por uma verdadeira igualdade de género". Mas talvez seja preciso ser aparentemente menos ambicioso para sê-lo mais. Com risco de termos de encontrar novos ritmos para entoar, é urgente travar uma verdadeira luta contra a desigualdade de género de que somos feitos, cada um e cada uma de nós. Todos os dias. Em todas as lutas. Até que a cada 8 de Março possamos celebrar um Maio que se cumpre.

 

Joana Manuel, Dirigente do CENA-STE, actriz e cantora